quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Histórias da crise um ano depois: veja como estão em 2017 brasileiros que apertaram o cinto em 2016

O ano de 2017 foi marcado pelo início da recuperação da economia, ainda que lentamente. Neste contexto, o G1 voltou a entrevistar Roberto Leite, Cláudia Barbosa e o casal Mariana Sola e Eduardo Silva, brasileiros que há 1 ano contaram como sentiram a crise e tiveram de reduzir seu padrão de vida.


Um ano depois, eles conseguiram reconquistar alguns hábitos de consumo que haviam abandonado em meio à recessão. Eles, no entanto, permanecem com marcas da crise e ainda lutam para virar a página completamente.


Mariana Sola, por exemplo, ainda está procurando emprego com carteira assinada. Enquanto isso, a solução é tocar o próprio negócio, em mais um exemplo de empreendedorismo por necessidade que ganha força no Brasil.


Veja um resumo do que aconteceu com eles em 2017:


Roberto Leite deixou de ser motorista de Uber e abriu seu próprio negócio este ano.
A empresa de Cláudia Barbosa se recuperou e ela abandonou as compras no atacarejo que frequentava em 2016 e voltou a comprar em mercados de alto padrão.
Mariana Sola e Eduardo Silva ainda vendem brigadeiro nas ruas em 2017, mas as vendas cresceram e eles têm novos produtos. Não moram mais de favor e voltaram a ter plano de saúde.

Luz no fim do túnel

Se 2016 foi um teste de resistência para o casal Mariana Marcon Sola e Eduardo Silveira Silva, em 2017 as coisas melhoraram e o casal já vê uma luz no fim do túnel para poder sair da crise.

Sem emprego e sem conseguir manter o aluguel de uma loja, eles passaram a vender brigadeiros no porta-malas do carro nas ruas em 2016. A crise afetou também a vida pessoal: eles voltaram a morar com a mãe de Mariana, cortaram o plano de saúde e saídas no fim de semana.

Em 2017, o casal ainda vende brigadeiros para viver e Silva faz bicos como Uber. Mas as vendas melhoraram e eles voltaram a morar sozinhos e a ter plano de saúde. E o negócio também cresceu: além dos brigadeiros, eles também vendem agora canecas personalizadas, panetones e biscoitos. No orçamento, já cabem alguns "mimos", como café da manhã na padaria em finais de semana e viagens curtas.

“Estamos conseguindo investir nos produtos, pagar as contas e ainda sobra dinheiro para a vida pessoal. Antes não sobrava nada”, conta Silva.

Silva considera que a vida deles este ano “melhorou uns 80%”. Para ele, o reaquecimento da economia ajudou seu negócio. "Deu sentimento de esperança nas pessoas, antes elas tinham medo de gastar, agora estão gastando mais”, diz.

Neste ano, o casal começou a vender doces em eventos na cidade, como bazares em hotéis ou organizados por ONGs. “Estamos fazendo muitos contatos nesses eventos e isso tem gerado encomendas e convites para outros bazares”, conta Mariana. Só em um evento no primeiro final de semana de dezembro receberam sete encomendas de brigadeiro e panetone.

No ano passado, quando sentiu o auge da crise e os preços dos alimentos dispararam, o casal cortou até a comida. Era arroz com farofa todo dia. Na casa nova, a primeira aquisição foi uma churrasqueira elétrica. “Agora tem carne na geladeira, e aos finais de semana sempre tem churrasco com cervejinha”, diz.

O consumo da família voltou. Silva, que no ano passado usava uma massa adesiva para fixar os aros quebrados, este ano está de óculos novos. Os dois também trocaram de celular.

O casal admite que, apesar da melhora, os problemas ainda não foram superados completamente. Em janeiro deste ano, Mariana conseguiu voltar para o mercado de trabalho como secretária executiva, mas perdeu o emprego em julho.

Mariana diz que está procurando emprego todos os dias. Mas desde agosto, só fez duas entrevistas. “Gosto de ter carteira assinada. É difícil não ter o dinheiro certo no mesmo dia do mês esperando”, comenta.

Mas a breve experiência dela no mercado formal ajudou o casal. O dinheiro da rescisão deu para quitar dívidas, fazer estoque de ingredientes e comprar os equipamentos para fazer as canecas personalizadas.

O grosso da renda do casal ainda é da venda do brigadeiro – 80%. Os outros 20% vêm do Uber. Silva quer melhorar o negócio das canecas e voltar a ter a cafeteria que eles tiveram de fechar no começo de 2016 num centro comercial da Rua Augusta.

“O brigadeiro dá dinheiro, mas dá mais trabalho e é perecível, tem que vender se não perde”, diz Maria

Recuperação do padrão de vida

A empresária Claudia Barbosa, de 47 anos, deu entrevista para o G1 no ano passado na saída de um atacarejo. Na crise, sua empresa perdeu clientes e ela teve que ajustar seu padrão de vida à nova realidade. Em 2017, o negócio voltou a crescer, a empresa contratou e Claudia recuperou seu padrão de vida.

Dona de uma consultoria de seguros e benefícios, ela contratou três executivos de multinacionais. Com isso, conseguiu manter os clientes do ano anterior e trouxe novas empresas. Atualmente, sua empresa cuida de 30 mil segurados.

Todas essas melhorias na empresa refletiram em sua vida. Neste ano, ela voltou a comprar em supermercados de alto padrão, comércios de hortifruti e empórios. Queijos como brie, gruyère e camembert voltaram a sua mesa de café da manhã, além de geleias importadas.

No ano passado, quando perdeu clientes e a inflação acelerou, teve de passar a comprar em atacarejo, estabelecimento que mistura o atacado e o varejo no mesmo lugar, para manter o poder de compra. E renunciou às marcas mais caras, aos queijos sofisticados e à variedade de vinhos importados e proseccos. Só manteve seu vinho frisante italiano preferido porque conseguiu preços melhores no atacarejo.

A empresária conta que a empresa voltou a dar lucro neste ano, após o faturamento cair 25% em 2016. Ela aproveitou o bom momento para mudar seu escritório do Centro de São Paulo para outro maior e com localização melhor -- na Avenida Paulista, um dos endereços mais valorizados da capital paulista.

Ela também pagou este ano boa parte do financiamento da cobertura em que mora no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, quitou a dívida do condomínio e o financiamento do carro e está conseguindo bancar as mensalidades da faculdade de medicina que a filha começou este ano. Tudo porque a empresa se recuperou.

E ela está otimista para 2018. Nos seus planos estão trocar de carro, reformar seu apartamento e viajar para o Canadá no meio do ano.

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